Crab Nebula

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Você já deve saber que o Universo está se expandindo, este é mais um dado científico, neste jogo dos deuses onde mais alguns milênios e tudo poderá voltar a ser poeira…

Poeira Cósmica, Poeira bíblica, ao pó voltarás !
o Universo conspira, o mundo gira todos os dias você abre os olhos e mesmo que não enxergue este admirável mundo novo invade seus poros…

O poeta Arnaldo Antunes já disse: com um olho aberto, outro acordado
Em meio aos multimeios dessa cultura das comunicações, o rádio é aparato mutante, acoplado às operações do dia a dia na Terra: poderes, saberes, prazeres e agora pode levar você a mapas visuais.

texto ou som ? o rádio pode abrir a porta da garagem no edifício ou cozinhar o seu jantar: liga na sala, liga no quarto, liga no carro, no computador,liga, liga, lá ! e ouve na garganta do atorGerard Depardieu, recitando Arthur Rimbaud enquanto a pilha, o transistor, o chip, o cabo de fibra ótica, a antena parabólica, todas essas tecnologias carregam vozes.
vozes captadas, capturadas, por ouvidos.

vozes num Universo Galáxico.
neste mesmo Universo em expansão habitam outras galáxias.
Rádio galáxias, por exemplo.
Crab, a nebulosa, está lotada de ondas de rádio.
Crab, caranguejo. Crab, radiogaláxia anda para trás, mas como será mesmo que uma onda de rádio pode andar para frente ?
comunicação radiofônica, todas as falas, articulações sonoras na distância entre significado e significante. Tudo se cruza. Tudo habita esta rádio galáxia agora.
palavras recompostas…
palavras desconstruídas …
palavras atravessadas…
poesia sonora, este o nome ou classificação para o trabalho de uma cabeça pensante neste novo milênio.
A invasão bárbara do segundo milênio arrastou as calçadas mais sofisticadas da Europaao considerado mafuá das culturas distantes: camelôs no deserto de chances deste mundo enredado pelo capital financeiro onde culturas milenares tornadas fragilidades comerciais na expansão imperialista, sociedades depauperadas, países que já foram reinos, hoje, se chamam… “periféricos”.Ignorância, teu nome é arrogância, dos que imaginam que tudo será homogêneo .

Nada disso, muito ao contrário, as vozes se agitam pra lá de Crab Nebulla, será precisa lançar o olho, o ouvido, em perspectiva renascentista: esta paisagem é infindável… lá vem ele, ambulante, como um elefante branco nessa Índia, very, very British.
Oriente-Ocidente, aculturação dançante, pacifista e incendiária, world music de ponta ou apenas este jeito anglo-hindu de ser dos rapazes do Asian Dub Foundation aculturação prá lá de contemporânea, é fato, é drum’n’bass asiático, dub e rap, tudo isso empacotado como “étnico”…

Étnico como a voz de outro poeta mais antigo.
Sim, ele falou desse jeito e inaugurou o Dada …
Muito estranha essa cabeça de rádio ?
Tão estranha como uma cabra da peste ?
Veja você, esta viagem estelar aportou naquela equação memória + voz + imaginário. Deu para sair do lugar ?
cada ouvido uma escuta
cada mensagem um erro ou acerto
cada cabeça uma sentença.
cabeças pensantes ouvem rádio buscando escutar.
pode ser o som de passos, correndo, numa história sem falas.
As guerras e feiuras do Sudão ganham visibilidade nas páginas dos jornais.

Mas quem escuta seus encantos ?
Quem conhece a história da Roda D’água contada pelo compositor Hamza el Din ?
o rádio caixinha de música pode estar ligado agora!
Jorge Luis Borges lembrou que o esquecimento é parte importantíssima da memória: é preciso esquecer para lembrar,
sendo assim, será mais fácil ouvir aquilo que guardamos no esquecimento.
Os dias passam como caixas de tempo, arquivos de uma memória que se esvaece nos afazeres do cotidiano.

Do que você quer lembrar ?
Luz e penumbra. A transmissão radiofônica pode embutir muito mais do que palavras, fatos, informações.
Como a ideia de um guru, palavra que significa luz e sombra.
Então, neste rádio guru solto nesta Galáxia, ouvimos outro poeta passar o tempo neste Passatempos e Matatempos, uma história milenar, fábula que procurar ser, um talismã.

Navegar é preciso. Viver não é preciso.
Navegar é preciso, viver não é preciso …

O que dizer desta máxima do poeta portugues ?
A poesia que nos toca não é para ser explicada. Como a vida.
Viver ou navegar, pelas ondas radiofônicas que nos trazem na voz o apaziguamento e a fúria.
O sonho do sono: encantamento. Só ouvidos.

O sono é um eco.
Eco radiofônico como este Mantra entoado
Paisagens sonoras rabiscadas. O rádio caminha mutante.
Novas e velhas tecnologias apenas lhe são úteis.
O que interessa mesmo é porque, e para quem, enviar suas mensagens.

É isso.
Garanta que seu cérebro, ossos e fluídos continuem na ativa acionando inteligência por suas entranhas: rádio conexões nervosas nesta Galáxia, onde apenas caminhamos .just walking escutando e agora vendo, este rádio.

 

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Fotografia: Lucia Helena Zaremba