Hertziana

Hertziana, galena codex
Lilian Zaremba
agora existe a voz no ar … e na tela
a palavra no ar … e na tela
o silencio no ar … e na tela ?
Cecil Taylor
As palavras sempre estiveram no ar: nas frases da retórica, textos sagrados, versos da poesia, mandamentos ditados por Deus a Moisés…nos hiatos do silencio. Quando a palavra se transforma em esquecimento dela Sócrates sugere distância em troca de aproximar-se da linguagem falada, “em que a palavra está segura de encontrar viva, na presença daquele que a pronuncia”… qual seria esta presença? A voz do falante sem corpo encontra ressonância na escuta de outro, ali extraindo a carne necessária à sua visibilidade…mas como escutar o vento? “retrocedendo até a borda da pedra onde terminam os olhos emprestados”, respondeu Huidobro.
Retroceder ao imaginar outro limite ajustando a pedra e seu poder eletromagnético. Ressoando alguma boca que fala e neste circuito do tempo, ativar a memória e suas elaborações. Ali, aquela língua falante intacta no varal dos sonhos, sintoniza as conversas da pedra…
e porque os homens carregam pedras?
Homens carregam pedras como histórias, dia e noite, sono e sonho – os verdadeiros dispositivos móveis – deslocando deste lugar sem horizonte àquele outro aonde apenas se pode escolher o tempo presente… e neste instante, seus sonhos voltem a ser sonhados.
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Hertziana, galena codex
instalação sonora, filme, placas de porcelana , prata e ferro.
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Fotografia: Lucia Helena Zaremba
Fotografia do Filme: Pedro Urano