Radioarte

Post

Radioarte

O God, I could be bounded in a nutshell
and count myself a King of infinite space
– Hamlet

A primeira pergunta quando este assunto surge: o que é radioarte??
O manifesto lançado pela emissora austríaca Kunstradio afirma entre outras que: rádio arte não é arte sonora nem música, radioarte é rádio.
E ainda: arte sonora e música não são rádio apenas por serem transmitidas no rádio…

Então, quando se escuta “Turbina” – obra realizada no espaço de arte- o mar e todo seu entorno ruidoso dentro da galeria Laura Alvim, não existe uma emissora mas pontos captados e emitidos. Um rádio sem rádio, ainda que dele evoque seus alto falantes. Lembramos que de todas as especificidades atribuídas à comunicação radiofônica uma, seria essencial em sua caracterização: a invisibilidade. Ausência de imagens gerando uma série de técnicas singulares na construção dessa linguagem é traduzida em qualidades nesta ausência de corpos como portabilidade, ubiquidade, não-localização. Entretanto, ausência não significa “falta”. O mar existe naquela Turbina porque o som de água de suas ondas ali está e o mar continua a existir neste outro oceano acústico, impregnado dos ruídos de seu ambiente: carros, pessoas, e todo o ruído que o vento carrega.

A questão da interação entre arte e som, lembra Germano Celant, está entrelaçada com toda a história da arte do século 17 até o 21, neste anseio por investigar espaço sensorial ou território que não se encaixa na tradição ocidental e suas coordenadas esquemáticas.
Assinala todo o curso da modernidade e o desenvolvimento de relações sinestésicas entre diferentes linguagens de comunicação,
com o objetivo de encontrar um outro, uma outra ordem não convencional. Frequentemente o deslocamento geográfico, uma
viagem, suscita este tipo de observação renovada. Na obra “o estrangeiro”, um móvel aonde gavetas sugerem mnemonicamente
um arquivo deste alguém que também é outro e o mesmo…alguém apenas foi deslocado.

O que escolher para arquivar?
Remixar, inverter, alternar o lugar de uma emissão sonora, convertendo em algo novo pode ser a estrutura de um outro pensamento. Um campo de audição coreografado como paisagem nos 2 passos de uma dança. Deslocar o corpo e deslocar o ar. O som apenas pode ser produzido no deslocamento do ar.

Se como bem colocou Paul Valery, observar é, em grande parte imaginar o que esperamos ver, frase de seu livro “Trabalho de falsificação de nossos olhos”, quando uma performance de Romano (onde transita com um radio nas costas emitindo sons) como “Falante” se desloca, escondido na mochila mas exposto no andarilho, a manifestação dessa cena inusitada provoca bom humor. Estaríamos esperando o riso? Na variedade de sons dentro de outros sons da cidade por onde caminha, no poder de deslocar a atenção da mesmice, na inusitada beleza da surpresa, no campo sem limites fixos do som, da música, da arte de fazer escutar e ver. A classificação mergulham em sua precariedade enquanto esta rádio arte estiver sendo emitida.

 

ENTREVISTA PARA SOARMEC

Informativo da Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC
Veja aqui